15 de abr. de 2007

Cavacos, assadeiras e distorções

Visualize a seguinte imagem:


É uma tiazinha, mulata, descalça no azulejo azul piscina, de costas pra você. Em meio aos baldes coloridos e trapos desbotados ela esfrega qualquer coisa no tanque de roupa de plastico branco de base de cimento. A cândida de todo dia desgasta apintura rosa das unhas do pé. Pé direito no chão e o esquerdo apoiado no peito do direito, às vezes coça a batata da perna, às vezes só descansa. Calça jeans azul escura dobrada até o meio da canela e camiseta do Maluf-88. Esfregando e cantado o que sai do radinho CCE. Quando não sabe a letra, murmura, pra no refrão soltar a voz. Entra luz da tarde pela janela do apartamento...


Se vc é um classe média e nasceu entre 1980 e 1985, vai lembra dessa cena ou de uma parecida no seu cotidiano infanto-juvenil. É a Jurema, a Ana, a Cida cuidando dos afazeres domésticos enquanto seus pais ganham o suado pão de cada dia na firma.

E, se vc é da minha época, vai se lembrar de um dos três refrões saindo do radinho dela:

1 - "Você jogou foraaaaa, o amor que eu te deeeei, o sonho que sonheeei, isso nao se faaaaz..."

2 - "Adocica meu amô, adocica. Adocica meu amô a minha vidaôôô..."

3 - "Vou choráááár, desculpe mas eu vou chorar, na hora em que você ligar..."

Seja Raça Negra, Beto Barbosa ou Leandro & Leonardo, você conhece bem a cena que ilustra esse post. Agora, como é de costume nesse blog, caminhemos 13 mil km pro lado de lá, na longínqua Helsinki, pra ver como o negócio acontecia.


A primeira diferença é que lá, eu (que na primeira imagem era só um personagem secundário em busca de um danoninho durante o intervalo da sessão da tarde) sou o personagem principal. Ao menos um deles.

Ao contrário da colorida cena brasileira, na Finlândia a cozinha é toda branca (pra combinar com a paisagem que eu via da janela), assim como as pessoas são todas brancas (menos eu, e os outros negões) e de resto...bom, vê ai:


TABELA DE CONSTRASTES E RESPECTIVIDADES ENTRE A ICONOGRAFIA DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA E FINLANDESA NO UNIVERSO DOS TRABALHOS DOMÉSTICOS:


O que no Brasil é... _______________________________Na Finlândia é...



Samba, pagode e axé______________________True Scandinavian Black Metal

Fundo de Quintal, SPC e Gerasamba_______PainConfessor, Kaatörsnik e Excalion

Batuque na tampa da panela_____________________ Solo de guitarra no mop


Miudinho de havaiana no tanque____Bate cabeça de avental dentro do frigorífico


Temática: amor, sexo e ciúme____Temática: adoração à Satã e sacrifício de virgens



Radinho de pilha CCE _____________________________Nokia com MP3 player


A salvação dos meus ouvidos era que, no reduto das louças sujas, quase sempre quem mandavam eram os africanos. Então quando eu chegava cedinho e via um negão carregando a louça, era quase garantia de música boa. À revelia dos nórdicos, eles levavam um sonzinho e colocavam atrás das máquinas de lavar, na malandragem. Sintonizavam "Groove FM" e já era. James Brown, Stevie Wonder e Herbie Hancock o dia inteiro. Como nada é perfeito, ás vezes rolava Shakira, para alegria do pessoal do baixo Nilo. Nos 5 meses que esfreguei pratos, 2 vezes escutei música brasileira: Umbabarauma e uma do Sérgio Mendes.

Depois de uns bons meses de louça lavada, e muito conhecimento adquirido em Nordic Black Metal, entrei na moda e comprei o meu Nokia com MP3. Acabando de vez com a era metal escandinavo nos meus sofridos tímpanos...



ps: Estou na Espanha faz uns 2 meses já. Esse post foi um arrotado depois de lenta digestão.

4 comentários:

Fecespedes disse...

Eu sei q faltou um design ai nessa tabela, mas faltou uma habilidade aí html...

Anônimo disse...

saúde!

Ass: Garbini mais velho!

S. disse...

Metal cara!

Anônimo disse...

Jámais fale assim do True Noroegan Death Metal