Eram 7 e 50 da noite e eu esparramado na cama do hotel. Com pouca coragem e nenhuma disposição, analisei minhas opções: 1 - sair pela orla de Copacabana e lesar as finanças da firma usando o reembolso num restaurante qualquer (afinal, vinganã é um prato que também pode se comer quente). 2 - Tomar um banho, perdir serviço de quarto e esperar passar algo de bom na TV. 3 - Estrear meu álbum de figurinhas da Copa. Escolhi, sem convicção alguma, o número 2, seguido de um eventual 3.
Escolha feita, desci procurando a primeira banca de jornal do Rio de Janeiro para aumentar meu arsenal de pacotinhos. Como a Copa começa em 2 semanas e jurei completar o álbum até o primeiro jogo do Brasil, tinha que entrar com os 2 pés no peito. Achada a banca, comprei mais 15 pacotinhos (ainda se chama pacotinhos? Na época do "Que Rei sou eu?" ainda era..), além dos 10 que já tinha.
Ao esperar o italiano da banca me dar as figurinhas e meu troco, passeava os olhos nas manchetes: Garotinho, PCC, Lula, dólar, chacina, copa, botafogo X vasco...No Maracanã. Hoje. 20h 30m. Enquanto o italiano carioca contava os pacotinhos, fiz as contas: quarto de hotel X arquibancada do Maracanã, serviço de quarto do hotel X amendoim do Maracanã, gol na tv do hotel X gol ao vivo no Maracanã. 8 e 10 no relógio, peguei o troco, as figurinhas, fui até a calçada e estique o braço.
Pelo pouco de assunto que tivemos, o taxista não parecia gostar de futebol. Gostava mesmo é de, como me confessou do nada, cornear a mulher com "uma mulher que ele fodia a 6 anos na Lapa e umas piranhas pela rua", o problema, segundo ele, é que "o pau acha que camisinha é touca, colocou, ele dorme". Feel free not to share, como dizem os ingleses. Quando digo "confessou do nada", é do nada mesmo, assim:
Escolha feita, desci procurando a primeira banca de jornal do Rio de Janeiro para aumentar meu arsenal de pacotinhos. Como a Copa começa em 2 semanas e jurei completar o álbum até o primeiro jogo do Brasil, tinha que entrar com os 2 pés no peito. Achada a banca, comprei mais 15 pacotinhos (ainda se chama pacotinhos? Na época do "Que Rei sou eu?" ainda era..), além dos 10 que já tinha.
Ao esperar o italiano da banca me dar as figurinhas e meu troco, passeava os olhos nas manchetes: Garotinho, PCC, Lula, dólar, chacina, copa, botafogo X vasco...No Maracanã. Hoje. 20h 30m. Enquanto o italiano carioca contava os pacotinhos, fiz as contas: quarto de hotel X arquibancada do Maracanã, serviço de quarto do hotel X amendoim do Maracanã, gol na tv do hotel X gol ao vivo no Maracanã. 8 e 10 no relógio, peguei o troco, as figurinhas, fui até a calçada e estique o braço.
Pelo pouco de assunto que tivemos, o taxista não parecia gostar de futebol. Gostava mesmo é de, como me confessou do nada, cornear a mulher com "uma mulher que ele fodia a 6 anos na Lapa e umas piranhas pela rua", o problema, segundo ele, é que "o pau acha que camisinha é touca, colocou, ele dorme". Feel free not to share, como dizem os ingleses. Quando digo "confessou do nada", é do nada mesmo, assim:
- Falta muito pro Maracanã?
- Nada, tamo quase lá, parcêro...sabe que eu fodo uma mulher fora de casa há 6 anos, mermão, mas seguinte é só ela, entende? E...
O pior é que o cara dividia sua falta de intimidade no assunto com pouca ou nenhuma noção do trânsito carioca, o que me fez zarpar do taxi com 5 minutos de bola rolada (refleti mais tarde sobre a "falta de noção de trânsito" de um taxista, carioca ainda por cima, e me senti meio idiota. Depois, lembrando do meu companheiro de viagem, o reembolso de despesas da firma, voltei aos anteriores um quarto idiota).
De longe, o maracanã tinha uma aura branca que iluminava a noite carioca. De perto, tinha cheiro de bosta. Ótimo, meu amigo sem noção parou o carro ao lado do rastro de um cavalo policial. Mas não era esterco que iria me impedir nessa altura do campeonato. Transpus a barreira de estrume e, enquanto tentava me localizar no mar de isopores com cerveja e varais de camisas de clube, uma massa sonora emergia do Maraca. Botafogo 1 X 0. Apertei o passo, na bilheteria pedia uma meia e segui rodeando o estádio até a entrada. Entrando no estádio, a bandeira de um torcedor atrasado me informa que sou vascaíno. Compro uma Brahma e reaperto o passo. O Vaxcão está atrás e precisa da minha ajuda.
Ao terminar o contorno por trás do anel, percorrer o túnel, já dominado pela luz branca dos refletores e pelo barulho da torcida, preparei os olhos para encarar o velho Maracanã. Quando finalmente olhei pra ele e ele olhou pra mim, pude ouvir nitidamente:
-Sentaê Pórra!
Saí da frente de me companheiro de torcida e fui, antes mesmo de contemplar o palco-mór do futebol mundial, procurar um lugar para sentar. O estádio estava longe de estar lotado, mas também não estava vazio. O anel inferior e a geral, ambos em reforma para o Pan-07, contribuíam para que o maraca parecesse quase cheio.
Devidamente instalado, chega a primeira boa notícia: combo de skol gelada, lata, e mendorato (nada de genérico, mendorato mesmo). 4 real. O vendedor, talvez pensando ter encontrado um mercado em potencial para explorar, sentou atrás de mim e descansou a imensa cesta de salgados.
O pau comia solto em campo e eu ainda observando. O maracanã é realmente imenso, um monstro. Uma das primeiras certezas que tive quando olhei para o campo é a de que para bater pênalti aqui o sujeito tem que ser muito macho. Tirando o sentimento de insgnificância que o maracanã impõe, no mais é um Morumbi maior, mais limpo, e com menos grades e lanças dividindo os setores. O vidro que separa cada um dos setores dá ao Maracanã um ar de Camp Nou (que desaparece quando se vê que o Dodô é o craque do time). Os banheiros lembra os do Aeroporto de Munique, se comparado aos do Morumbi.
Aos 20 de jogo, tirei meus olhos de turista e coloquei os de boleiro. O jogo seguia disputado, com destaque para a bandeira Ana Paula, cujas pernas são seguidas de linha de fundo a linha de fundo pela massa masculina presente e que, a cada intervenção contra o Vasco, era agraciada com o elogio de um gordinho, típico figurante da malhação, sentado 3 lugares à minha direita:
- PIRAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIINHAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Conforme a bola rolava, o brado do gordinho foi se tornando uma "gag" coletiva da torcida. encorajado pelos 4 amigos (também figurantes da malhação), que riam a cada novo berro. E o gordinho já fazia escola. 5 fileiras apra baixo, um garoto vestido de goleiro pulava e gritava, mesmo com a bola no tiro de meta:
- Piranha! Piranha! Piranha!
Com o jogo cada vez mais morno, fui transferindo minha atenção do campo para a torcida. Eis que, mais rápido do que o terceiro gol do botafogo, fui recompensado. E veio com um tio, tio não avô, que carregava, juro por deus, um trompete. Ele não emitia barulho sequer, fosse do trompete, fosse da voz. E não era por falta de querer, mas sim por falta de sanidade. Ele olhava pra mim, com aquela cara de maluco e gesticulava, apontava pro campo, mexia a boca, mas não saia som algum. Resolvi entrar na loucura do sujeito. Ele olhava pra mim, eu apontava pro trompete com a sobrancelha e fingia estar tocando, meio que falando “e ai, doidão, vai tirar um som desse negócio ou não?”. Ele fazia que não com a cabeça e voltava a reclamar do jogo, em mute. Achei que, quando saísse gol nosso, Dizzie Gillespie baixaria no cara. Nada. Mesmo com o de honra, o trompete continuou virgem. Devia ser só amuleto.
Certo de que a diversão da noite seria procurar tipos estranhos, desisti totalmente do jogo. Um pouco mais para cima, o prêmio máximo: uma fileira de gringos. Loiríssimos, rosíssimos, munidos de havaianas novíssimas e máquina digital em punho, tentavam assistir o jogo. Digo tentavam por que escolheram sentar na primeira fila de cadeiras, bem no corredor, local preferido dos malucos de estádio e também dos ambulantes. O gringo menor, xerox do Aaron Carter, tentava a todo custo desviar de um torcedor bêbaço recém saído da firma. Terno torto e amassado com gravata temática do vasco, o sujeito ficava de costas para o jogo, e insistia em tentar se comunicar com o nórdico, mesmo alcoolizado e sem noção alguma da língua (portuguesa mesmo).
Ao lado deste, um senhor de idade carregava, de um lado por outro, uma estátua de santa, quase do tamanho dele (1,40m mais ou menos) e fazia o sinal da cruz sem parar, atrapalhando, de uma vez só, todos os gringos. Em lances de perigo, a dupla virava um para o outro (e para os gringos, claro) e reclamava, deseperava, xingava, ora o ataque do Vasco, ora do técnico. Os gringos pulavam do concreto com cada investida dos dois e depois davam risadinhas cordiais estilo “por favor, senhor macaco sub-equatoriano alcoolizado, não me mate”.
Resumindo, era assim que o Maracanã estava a minha volta:
No meio, eu, lamentando ter deixado a câmera no hotel; o mendorato e a brahma.
O gordinho, à esquerda, se esguelando no “PIRAAAAIIIINHAAAA!!!” (o goleirinho, seu fã, lá na frente, também). Os amigos rindo.
O tiozão do trompete, à esquerda, gesticulando e olhando pra mim, em silêncio.
Os gringos, atrás, tomando susto atrás de susto (e depois na risadinha cordial escandinava) com as investidas do bêbado da gravata vascaína e do velhaco da santa.
Ao lado destes, notei bem depois, dois policiais escondidos na massa, fumavam seus cigarrinhos e, como qualquer torcedor, xingavam a bandeira gostosa cada vez que esta parava o ataque vascaíno.
O Rio de Janeiro é cheio desses malucos aí. Taxistas que só falam da mulher (alheia) e de corneadas (na própria), Romários, Eri Johnsons, popozudas, filézões, figurantes da Malhação e manadas de gringos filmando tudo em suas cybershots 7.1.
Ou é visão de turista paulista mesmo...
 
 
4 comentários:
Ô Animal, que texto grande hein Feio....
Mas foi bom ter uma imagem do Maraca...
Abraço!
é gde mesmo o texto, alguma coisa eu jah li e curti, depois leio mais
gosti! pobremas de ritmo e tal, pontuação e ortografia (êêê revisão), mas o conteúdo tá deveras intéressante!
prova de que você não tava em borrrdel ou hoxpital carióuca nenhum, ô paulixta...
bisous.
boa, fernandinho.
o maraca eh foda, meixmo, neh?
cotinue assim, e trate de deixar um post no meu blog, porra.
valeu?
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